Terça-feira, Outubro 02, 2007

Pobre gerúndio, foi demitido!

Não sou filólogo, ou como preferem alguns, filologista, mas gostaria aqui de relembrar o significado do termo filologia, qual seja, o "estudo da língua em toda sua amplitude, e dos documentos escritos que servem para documentá-la", conforme consta do Novo Dicionário do Aurélio. mas por que esta digressão?
Por ter achado muito "útil" para o desenvolvimento das ações do estado a providência do Governadro do Distrito Federal, José Roberto Arruda, demitindo, por Decreto, o gerúndio. Ora, o gerúndio é um tempo verbal que indica continuidade de ação, constante de todos os compêndios da língua portuguesa. Será que, de agora em diante, a gramática da língua portuguesa será modificada pelos doutos políticos, por Decreto?
Pelo Art. 2º do Decreto, pe dito que "Fica proibido a partir desta data o uso do gerúndio para desculpa de INEFICIÊNCIA". Muito bom!
Ora, INEFICIÊNCIA, ainda de acordo com o Novo Dicionário do Aurélio, siginifica "falta de eficiência, ou melhor, falta de ação, força, virtude de produzir um efeito". Ora, se há falta de ação nos órgãos do governo do Distrito Federal, para alcançar o desejado pelo estado, em minha modesta opinião, não será com o impedimento do uso de um tempo verbal que o objetivo apregoado será alcançado e sim, segundo os princípios das boas normas administrativas, com funcionários competentes, gerentes comprometidos com resultados e, principalmente, uma cúpula administrativa consciente das ações necessárias para atender os anseios e necessidades da população em geral; quem os elegeu.
Lendo o Decreto, tal como ele se apresenta, poderíamos chegar ao absurdo de imaginar uma professora da rede pública do Distrito Federal chegar diante de seus alunos e dizer que devido ao Decreto, ela não mais poderá ensinar todos os tempos verbais, o gerúndio, em particular, pois o mesmo foi demitido por Decreto do Governador.
Imaginemos a cena seguinte: no palácio do Governo do Distrito Federal: toca o telefone móvel de um funcionário, ele atende, e seu interlocutor pergunta - Por onde andas? Ao que ele responderia, em função do novo Decreto: - Eu ando pelo corredor tal, em frente ao gabinete do Secretário tal. É evidente que ele anda pelo corredor, mas na realidade ele "está andando", "está de passagem", "está desenvolvendo a ação de andar". É a correta aplicação do gerúndio.
Mas estaria o funcionário errado em sua resposta? À luz do Decreto, não. Mas à luz da gramática, certamente.
Isso aconteceria porque o Decreto é casuístico; de aplicação somente aos órgãos do governo do Distrito Federal e para combater a ineficiência.
Fica a pergunta: Se, por acaso, existirem órgãos, ou funcionários EFICIENTES, no governo do Distrito Federal é permitido a eles usar o gerúndio?
Amigos, legislar é fácil, baixar Decretos inúteis, mais ainda, principalmente quando se aproxima mais um período eleitoral, quando TODOS os políticos buscam encobrir suas ineficências com medidas de impacto que os coloque na mídia, sejam elas úteis à população, ou não. O importante é que os coloque sob os holofotes, pois é isso que gera votos.
Mas afinal, o quê estou eu fazendo no momento? Exatamente o que condeno acima, ou seja, colocando o governo (ou o Governador?) do Distrito Federal sob holofotes de uma mídia de grande repercussão, a Internet. mas permitam-me, essa foi a forma que encontrei para manifestar o meu desagrado quanto à medida baixada. Compreendam!
Pobre gramática, passou a estar vinculada ao poder público e, também, administrada por Decreto.

 
 

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